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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O homem quer!... A obra nasce

Neste caso, a mulher quis.
Assim!...
Há já muitos anos que escrevo e gosto de escrever.
Praticamente desde criança, quando as minhas redacções, eram lidas na aula em voz alta como exemplo...
Como devem calcular eu sempre fiquei muito vaidosa.

Finalmente consegui editar o meu livro.
Edição de autor claro, não tem qualidade literária para ser posto à venda em livrarias.

Aqui está a capa e já há no blogue vários textos dele.
Prometo que vou continuar a transcreve-lo aqui, aos poucos.

O LOBISOMEM ( conto )
Este episódio, ouvi-o contar ao meu avô uma vez que ele falava com um casal, que não era lá da terra e que nunca mais vi na minha vida.
Digo isto porque, apesar de eu ser má fisionomista, a figura desse homem nunca me saiu da memória, era alto, muito forte, moreno com umas sobrancelhas enormes, talvez o homem maior e mais forte que alguma vez vi.
Eu ia a entrar na casa do lagar quando percebi que a conversa era privada. Fiquei parada sem dizer nada, enquanto o meu avô falava o homem estava meio sentado no muro do lagar, com as mãos inquietas e os olhos baixos, ouvia com atenção.
Numa fazenda que ficava bastante longe de casa e onde habitualmente se semeava o milho, nesse ano, o meu avô decidiu semear pasto para os animais comerem no Inverno. O pasto dava menos trabalho e também dava o seu lucro porque o meu avô comprava reses pequenas que vendia depois de crescidas e alimentadas com o tal pasto. O pasto, depois de cortado e seco, era colocado em medas.
A meda era um trabalho no mínimo artístico, senão vejamos: Era colocado um pau de uns três metros de altura, na vertical e seguro na terra para poder aguentar e suster o peso do pasto, que se colocava em volta numa posição inclinada, um sobreposto ao outro, assim sucessivamente desde o solo até aos ditos três metros de altura, posto assim de uma forma inclinada, com uma base larga, e terminando em bico o pasto ficava protegido da chuva, pois a água escorria sem penetrar no seu interior. No topo do pau era atado um pequeno impermeável de formato redondo para que a água não escorresse pelo pau, durante o Inverno o pasto era tirado cuidadosamente por baixo. Assim, ia escorregando sempre na mesma posição até acabar.
Nesse fatídico ano o meu avô, depois de apanhar e secar o pasto, fez três enormes medas no Casal da Manteiga. Andaram várias pessoas a trabalhar um dia inteiro mas o serviço ficou pronto antes de começar o mau tempo.
Passados uns dias o meu avô ia de bicicleta na estrada e qual não é o seu espanto ao olhar para a sua fazenda, as medas não estavam lá! Ficou aflito, seguiu o mais rápido que pode até ao sítio e viu o pasto todo espalhado, os paus caídos por terra, uma desgraça! Tanto trabalho e tudo perdido. Saiu dali foi reunir os filhos que estavam a trabalhar noutras fazendas, foram todos para o Casal da Manteiga para arranjar tudo de novo, pois podia começar a chover e era um enorme prejuízo. Lá conseguiram arranjar tudo, é claro que, uma vez o pasto desmanchado o trabalho já não ficou tão perfeito, mas lá ficou tudo pronto.
O meu avô ficou muito nervoso, um trabalho daqueles não se fazia facilmente, se dá trabalho a fazer também dá para desmanchar!
Quem seria que fez aquilo?
Ficaram tão espantados que pouco falaram do assunto. Nessa noite o meu avô pouco dormiu, levantou-se cedo e foi ver. Os seus receios tinham razão de ser, lá estava de novo o pasto todo espalhado e os paus deitados a baixo. Aquilo não era trabalho de uma pessoa só, como será possível, numa noite deitar tudo a baixo? Não! Aquilo tinha que ter uma explicação.
O meu avô lá foi para casa, acordou os filhos e foram mais uma vez arranjar as medas. Na noite seguinte, o meu avô não se deitou. Sentado na rua, com um copo de vinho na mão, olhou para o céu e percebeu tudo.
Não disse nada a ninguém, montou na bicicleta e seguiu para o Casal da Manteiga e ficou à espreita. Era a terceira noite de lua cheia, quase parecia de dia, passados uns minutos o sujeito chegou. Era um veado enorme, com uns chifres com várias ramificações, vinha desenfreado e aos pinotes, com os cornos começou a sua tarefa, deitar a baixo as medas de pasto que o meu avô e os filhos fizeram com tantos cuidados. Quando terminou já passava das duas horas, começou a ficar cansado, mas sempre aos pinotes lá andou mais um pouco, depois seguiu lento o seu caminho.
O meu avô montou na bicicleta em silêncio e seguiu-o sem se deixar ver. Ao chegar ao local do seu destino, o animal espojou-se no chão e quando se levantou era um homem perfeito: grande, forte, musculoso e cabeludo, tinha cabelos por todo o corpo. O meu avô ficou ali em silêncio a ver tudo, até que o homem se vestiu com as roupas que estavam dobradinhas junto ao tronco de um carvalho e seguiu o seu caminho.
O meu avô não precisava de ver mais nada. Só tinha mais uma noite para agir, depois a lua cheia passava e o tempo mudava, era preciso preparar tudo rapidamente, ele sabia como fazer.
A lenda era bem conhecida. O sétimo filho homem era lobisomem, depois de adulto e em noite de lua cheia saía de casa por volta das onze horas, chegava a uma encruzilhada que tivesse um carvalho, de preferência, mas podia ser outra árvore qualquer. Despia-se todo nu, dobrava a roupa com muito cuidado, toda do direito para depois vestir rapidamente, em seguida deitava-se no chão (espojava-se) pensando num animal que lhe agradasse ou então acabava por se transformar num que tivesse passado lá e deixado o rasto.
Dizem as lendas que os lobisomens correm sete freguesias em duas horas e para não se magoarem antes de começar dizem “Por cima de toda a folha!” e assim saem ilesos. Depois chegam ao local de partida vestem-se e seguem para casa, mas há uma forma de lhes quebrar o encanto, é preciso ter coragem e não ficar para ver o resultado, senão pode ser trágico. Diz-se que se lhe virarem a roupa do avesso, quando ele chegar fica furioso, enraivecido e pode até matar quem lhe fizer isso.
O meu avô conhecia a lenda, sabia o local daquele lobisomem, só tinha que agir rapidamente, foi para casa mas como já era madrugada passou pela padaria comprou pão e queijo fresco. Quando chegou acordou os filhos e disse:
- Toca a comer, temos muito que fazer! Hoje acabamos com tudo! – Contou aos filhos e à mulher tudo o que tinha visto e que se passou, pediu que fosse um segredo pois seria muito grave que viesse a público, afinal toda a gente sabe a lenda mas no fundo ninguém acredita realmente, sempre se leva para a gozação e se alguém viesse a saber ainda iam dizer que eram uma cambada de saloios, e iam ser gozados a vida inteira, para além das histórias que se contariam e inventariam, seriam motivo de chacota em todo o lado.
Nesse dia voltaram ao Casal da Manteiga e refizeram todas as medas de novo com muito cuidado. Trabalharam em silêncio, sem cantorias nem brincadeiras como habitualmente, eram sempre alegres, nesse dia não. À noite foram para casa, como sempre, jantaram e pouco falaram do assunto. Por volta das dez e meia o meu avô saiu de casa, todos se recolheram mas ninguém conseguiu dormir.
O meu avô foi até à encruzilhada e aguardou depois de ter escondido a bicicleta, quando o homem chegou o meu avô quase deixou de respirar, viu tudo com atenção. O homem despiu-se, dobrou a roupa muito dobradinha e pô-la junto ao tronco do carvalho. Parou, cheirou o ar como um animal, andou à roda, à procura, estava desconfiado, mas o meu avô nem pestanejou. O homem, por fim, lá se tranquilizou, deitou-se no chão e rebolou, quando se levantou era o veado enorme do dia anterior.
Começou logo aos pinotes e a manear a cabeça com os chifres enormes, depois foi embora. O meu avô esperou um pouco, saiu do esconderijo e dirigiu-se à roupa virou-a toda do avesso e voltou a dobrá-la muito bem, colocando-a no mesmo sítio. Depois montou na bicicleta e foi o mais rápido que pode para casa. Arrumou a bicicleta, trancou as portas, apagou as luzes e a chaminé e meteu-se na cama, mas não dormiu nada a noite toda até de madrugada, com receio que o monstro lhe seguisse o cheiro, felizmente não era um cão. Mas nada aconteceu.
No dia seguinte, todos se levantaram com olheiras pois ninguém conseguiu dormir, tomaram o café e foram refazer as medas mais uma vez. Não voltou a acontecer mais nada, nem se voltou a falar do assunto até ao dia em que eu, sem querer, surpreendi o meu avô a conversar com aquele casal.
Tinham passado alguns anos, e o homem estava ali para agradecer ao meu avô o favor de ter acabado com aquele feitiço que fazia dele uma aberração e também para pedir desculpa pelo prejuízo causado. Levou muitos anos para perceber o que se passou, levou meses até entender porque razão não saía em noites de lua cheia, teve que entender através de muitas conversas cheias de superstições a razão porque o fazia e daí conseguir perceber porque deixou de o fazer.
O meu avô, ao virar a roupa para o avesso, não só se protegeu a si, como também acabou com o feitiço para sempre. O homem tinha vergonha e estava agradecido, e só ali, falando com o meu avô ficou a perceber tudo o que rodeia as lendas dos lobisomens – Podia ser pior! – dizia o meu avô.
– Podia ter seguido o meu cheiro e ter-me matado! Mas vejo que apesar de tudo é um homem calmo!
- Sabe que nem o meu pai nem a minha mãe, nunca acreditaram que estas coisas me aconteceram? – Verdade!
- Eles achavam que era galdério e que só queria saber de farra, nunca entenderam que eu não era normal, nem pensaram que como era o sétimo filho precisava de ser benzido ou sei lá! Sofri tanto porque não entendia! Consultei médicos mas nada! Tive que andar a averiguar, mas sabe que ninguém leva estes assuntos a sério? Todos pensam que são lendas, eu era jovem! Tive muita sorte, graças a si! Casei e tenho um casal de filhos, sou feliz e eternamente grato.
Quando o homem se levantou, eu fugi, tive medo que me vissem mas nunca esqueci esta história e acredito piamente que estas coisas aconteciam, agora não! Os casais só têm um ou dois filhos ou então têm um de cada pai ou de cada mãe e assim não conta, é preciso serem sete seguidos e todos do mesmo sexo.

7 comentários:

  1. Plantar uma arvore, ter um filho e escrever um livro... É uma mulher realizada.
    Qundo puder vou contar o conto à minha filha.
    Boa continuação
    Ana Mourão

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  2. Oh minha querida... quem me dera pegar nesse livrinho e embrulhada numa manta, quentinha, ouvir a tua voz a contar histórias...

    Venho mais logo ler o Lobis(h)omem, que o texto é longo e agora não o posso degustar como ele e eu mereço.

    Um beijinho

    Ana

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  3. Parabéns pelo Livro minha querida.

    Beijos,
    Simone Deodato.

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  4. antes de mais...PARABÉNS!
    seja edição de autor ou não, é o seu livro.
    continuarei a lê-la.
    agostinho

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  5. Querida Eugénia. Gostei e diverti-me com o seu livro.Parecia que estava a conversar comigo e a contar-me as suas peripécias. Simples, directa, franca, e sempre optimista em relação á vida. Fico a aguardar o seu próximo livro, ainda faltam muitos assuntos... o desporto que pratica, os seus cozinhados, as suas leituras, os seus filmes e a forma como incentiva os outros a "mexerem-se" e com uma pressa que ninguém a agarra.Muitos BJS.

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  6. Parabéns, Eugénia. Acho o máximo!!!

    Sara Monteiro

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  7. Parabéns pelo texto , não li o livro mas se for idêntico a este texto, muito bom!
    Seguindo o comentário da Ana, preciso de um dia escrever um livro, é o que me falta... mas cadê o talento?!!

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