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terça-feira, 18 de agosto de 2015

Luísa e os Óricamos

escrevi este conto antes da minha neta Luísa nascer, não sabia que ia ter outra neta nem como se chamaria... calhou bem!


Luísa e os Óricamos
 Luísa gostava muito de correr, ia sempre para os trilhos da floresta, nunca ia acompanhada, gostava de correr livremente, de sentir a natureza em seu redor, gostava dos sons e do verde. Corria sem compromissos nem horas marcadas, decidia ir e ia sozinha, quase sempre de madrugada, antes de todos, antes das bicicletas e dos caminhantes que habitualmente frequentavam aquela zona.
Num dia muito bonito mas com muito frio, ela entrou num trilho bastante fechado.
Na primavera a floresta enche-se de folhas, flores e ramos novos, os arbustos e as árvores que no outono e no inverno ficam praticamente despidos, na primavera ficam muito densos e farfalhudos, tapando quase por completo os trilhos que ela conhecia. 
Luísa não se intimidava, não tinha medo de nada, era muito corajosa e atrevida.
  Ora, acontece que na floresta há muitas coisas para além de árvores, arbustos e flores, tem também muitos outros seres vivos. 
A vida na natureza é muito diversificada, tem de tudo um pouco: sardaniscas, sardões, salamandras, camaleões, sapos e rãs. Esquilos, coelhos, ratos e ratazanas. Ouriços e até morcegos, tem gatos e cães abandonados. Tem muito mais: tem pássaros, borboletas, moscas e mosquitos. Tem abelhas, vespas e zangões. Tem libelinhas, gafanhotos e louva-a-deus e, tudo convive harmoniosamente, sem a interferência dos humanos.
Luísa estava habituada a tudo isto, aos sons e movimentos de toda esta vida natural. Agora para o que lhe apareceu pela frente, isso ela não estava preparada!
Luísa, é bom que se diga, era uma rapariga com muita imaginação. Costumava contar ao irmão mais novo histórias de animais imaginários e aventuras inventadas por ela mesma mas, isto era algo que ela nunca, por mais que imaginasse, podia prever. Era um ser muito estranho o que lhe barrou o caminho:
 - Quem és tu? Interpelou-a ele. Se é que se pode dizer ele, porque era uma criatura tão estranha que era difícil distinguir se era ele ou ela. Era um animal pequeno, tinha umas asas e uma cabeça de pássaro, contudo o corpo era o de um cão, ou será que era um carneiro?Luísa ficou a olhar para aquela criatura sem perceber o que era e ainda por cima falava.
 - Quem és tu? Perguntou de novo – Que fazes aqui no nosso mundo?
Ela ainda muito ofegante e admirada, respondeu atabalhoadamente: 
 - Quem sou eu? E tu quem és? Ou antes, o que és?
 - Sou o chefe dos Óricamos! Sou eu que mando nesta terra e tu que fazes aqui? Quem te deu autorização para andares por estes caminhos? Vocês os humanos são muito atrevidos e descuidados…
 - Corro, não viste que ia a correr? Eu gosto de correr e venho sempre para aqui, já há muito tempo e nunca te tinha visto, de onde vieste? Que queres comigo agora? 
 - Ultimamente temos patrulhado mais vezes a floresta, para prevenir os acidentes, os incêndios e os crimes de uma maneira geral. Há muitas coisas a acontecer por aqui e nós temos responsabilidades para com a natureza.
Luísa estava estupefacta, não conseguia tirar os olhos daquela criatura estranha, uma mistura de pássaro, cão, carneiro e falava, isso era o mais estranho.
 - Tudo bem mas diga-me uma coisa, porque me parou? Porque está a falar comigo? Acha que sou uma criminosa?
 - Não! De todo, não, Nós conhecemos bem os criminosos! Só queremos garantir um espaço para nós e neste momento quase estamos sem ele, as bicicletas e os atletas têm feito tantos trilhos, que ocupam quase todo o território que antes era só nosso, estamos a ficar bastante limitados.
 - Não sabia que havia criaturas assim! Disse Luísa mirando-o de cima a baixo – O que és tu?
 - Sou um Óricamo! Já te disse, nem toda a gente nos consegue ver. Somos mais ou menos transparentes, só ficamos visíveis em situações limite e com pessoas de confiança. Neste caso específico tu precisaste de mim, por isso me estás a ver….
 - Eu precisava de ti? Ela riu.
 - Porquê? Eu ia aqui muito bem a correr, vens tu interrompes-me e eu é que precisava de ti? Ora essa!
Luísa entretanto ouviu outra voz.
 - Vamos embora antes que ela acorde!
 - Não! É perigoso deixa-la aqui sozinha, pode aparecer algum animal ou alguém que se aproveite e lhe faça mal. Ela é uma das pessoas de confiança! É daquelas pessoas que podemos e devemos ajudar. Temos que cuidar dela e tentar leva-la para perto da estrada de modo a que alguém em quem nós confiamos a veja e a ajude.
Luísa virou-se e viu mais criaturas parecidas com a primeira, eram duas e atrás estavam mais:
 - Afinal que é que se passa? Não estou a entender, que querem de mim?
 - Estás a ver? Além do mais é mal-agradecida. Dizia outra criatura. Era muito difícil descreve-la, tinha rosto de esquilo, mãos humanas, patas de coelho e o corpo como o de um cão quando fica assente nas patas traseiras…
 - Não importa, pega aí no telemóvel dela e marca o 112. Não podemos correr o risco de ela acordar.
Luísa estava furibunda! Estes coelhos, cães, pássaros, com rabos de serpente e cara de esquilos, estavam a começar a passar das marcas, deu um grito.
 – Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui, ninguém mexe no telemóvel e deixem-me seguir!
Apesar de ninguém estar a impedi-la de continuar a verdade é que Luísa não conseguia mexer-se. Por alguma razão estranha aqueles seres olhavam para ela com ar de preocupação verdadeira. Ficou ali a olhar para eles, enquanto um deles que tinha uma cabeça de cão, asas como um pássaro, um corpo, pequeno é verdade mas, parecido com o de uma pessoa, tentava marcar o número de emergência. Quando alguém atendeu do outro lado ele com a vós da Luísa só disse:
 – Ajudem-me, estou na floresta perto do cruzamento no acesso do lado sul. Depois pôs o telemóvel na mão de Luísa e disse para os outros:
 - Pronto, já podemos ir! O chefe dos Óricamos estava calmo!
 - Temos tempo! Não a podemos deixar aqui, não vamos deixa-la sozinha, pode acontecer alguma coisa.
 - Explique-me o que se passa por favor, suplicou LuísaEla estava a começar a entender que alguma coisa tinha acontecido, alguma coisa da qual não se apercebeu mas, o quê?
 - Caíste! Tropeçaste naquela raiz ali e bateste com a cabeça nesta pedra. Por alguma razão perdeste os sentidos e ainda não recuperaste. Já estás há muito tempo assim e isso para qualquer ser vivo não é nada bom e pode ser muito grave. Além do mais está muito frio, por isso tivemos que intervir se não ainda podias morrer aqui! Fica tranquila que o Tareco já está a tentar reanimar-te, não podíamos deixar-te aqui sozinha e assim caída sem sentidos! Vai correr tudo bem, vais ver.
 Luísa não entendia nada! Estava ali de pé junto daquelas criaturas, a falar com elas e elas diziam que estava caída sem sentidos? Que situação mais estranha. O chefe dos Óricamos apontou com o dedinho para um sítio atrás de si. Quando ela se virou viu-se a si própria caída no chão inanimada e com um fio de sangue a sair de uma têmpora. Ficou abismada debruçou-se sobre si própria e ficou ali a olhar para aquele pequeno ser estranho, com cara e cabeça de esquilo mas com Patas e corpo de cão a fazer exercícios em cima do seu peito e a fazer respiração pela sua boca, enquanto um outro lhe tapava o nariz, era uma situação deveras embaraçosa.
 O peso do pequeno ser não era suficiente para fazer o peito baixar de modo a massajar o coração. O Chefe dos Óricamos saltou para cima do peito de Luísa e chamou mais outros, que começaram a saltar todos ao mesmo tempo, enquanto um deles fazia a contagem. Mais uma vez o menino com cara e cabeça de esquilo lhe soprou pela boca enquanto o outro lhe tapava o nariz.
 De súbito Luísa deixou de ver, ficou tudo escuro. Tentou mexer-se mas doía-lhe a cabeça. Tentou levantar-se mas não conseguiu! Olhou em volta não viu ninguém, só se ouviam os pássaros e os barulhos normais da floresta, respirou fundo! Pelo menos estava viva, mexeu os pés e as mãos, também não estava paralisada, virou-se de lado e tentou erguer-se devagar. Ao fim de algum tempo e com esforço conseguiu sentar-se, doía-lhe o peito mas de resto sentia-se bem. Tinha um grande alto na cabeça junto à têmpora, levou a mão ao sítio e tinha sangue, não era muito, não era grave. Depois lembrou-se do telemóvel, onde estaria? Não o conseguiu encontrar na bolsa, devia estar no chão perto do sitio onde estava a sua mão antes de se levantar. Lá estava ele, ainda ligado para o 112. Afinal não tinha sonhado, tinha mesmo acontecido tudo. Olhou em volta a ver se via as criaturas mas, não viu nada, chamou.
 - Óricamos! Óricamos! Onde estão vocês? Apareçam por favor, só quero agradecer, nunca vou esquecer o que fizeram por mim, apareçam! Quero vê-los mais uma vez. Começou a ouvir o toque de uma ambulância. Dirigiu-se lentamente para a saída da floresta quando viu dois paramédicos a avançar pelo trilho com uma maca.
 - Bom dia menina, recebemos uma chamada de socorro foi você?
 - Parece que sim! Eu devo ter caído e perdi os sentidos mas, já passou descul…. Luísa caiu inanimada! Os paramédicos socorreram-na imediatamente e levaram-na para o hospital. Tinha um pequeno traumatismo craniano, quando acordou estava numa sala toda branca, com um médico de bata também branca que olhava para ela a sorrir, enquanto lhe pegava no pulso.
 - Já passou! Não se preocupe que não é nada grave. Disse ele muito simpático
 - Agora só tem que descansar.
 - Afinal o que foi que me aconteceu?
 - Deve ter caído e bateu com a cabeça, fez um pequeno traumatismo craniano. Já fizemos todos os exames agora vamos aguardar para ver se está tudo bem. Se nas próximas horas não se sentir enjoada ou vomitar é porque está tudo bem, de qualquer maneira tem mesmo que repousar. Como se sente?
 - Muito confusa doutor, se não fossem aqueles animaizinhos estranhos, eu teria morrido ali pois ninguém me iria encontrar.
 - Animais? O médico puxou uma cadeira e sentou-se à cabeceira de Luísa 
 – Que animais? Conte-me lá!
 - Os que chamaram o 112. Os que me fizeram a reanimação, que me salvaram a vida.
 - Realmente, verificámos que alguém lhe fez a reanimação, tem umas nódoas negras no peito mas, não foi o pessoal da ambulância?
 - Não doutor, quando a ambulância chegou eu já estava de pé, só que depois acho que voltei a cair.
 - Então, conte lá do que se lembra! Disse o médico com muita calma. Luísa começou a relatar todos os acontecimentos, contou do especto dos Óricamos, do telefonema para o 112, da reanimação, da chegada dos paramédicos, sem nunca ser interrompida, o médico deixou-a falar à vontade, quando acabou ele olhou para ela e com muita calma disse:
 - Muito bem! Acho que está com uma amnésia fantasiosa! Isso vai passar dentro de um ou dois dias mas não se preocupe que é normal acontecer a pessoas que têm traumatismo craniano. É uma glândula que existe na massa encefálica, que gera imagens e que faz com que as pessoas sonhem acontecimentos estranhos, agora descanse e tente dormir. Abriu um pouco mais do líquido que estava a correr por um tubinho diretamente para a veia do braço de Luísa e saiu.
 Acontece que Luísa não era uma pessoa fácil de convencer. Ela sabia bem o que tinha visto e ouvido. Sabia que havia alguma coisa lá bem no meio da floresta e tinha que tirar aquela história a limpo. Não era um médico com explicações sobre glândulas e massas encefálicas que a iam convencer de que não tinha visto nada… Por agora o melhor era ficar calada, para não pensarem que estava maluca.
 No dia seguinte, depois de uma noite descansada, quando acordou sentiu-se muito bem apesar de se lembrar exactamente de tudo. Quando o médico chegou, cumprimentou-a e perguntou.
 - Então? Como se sente? Lembra de alguma coisa estranha que lhe tenha acontecido? 
 - Não! Que foi que aconteceu? Eu estou muito bem, só acho que já estou aqui há séculos, acha que já me pode mandar embora?
 - Ainda não! Disse o médico. - Gostava de lhe fazer mais uns testes a ver se a amnésia já passou. Diga-me cá ainda se lembra dos animais estranhos que viu na floresta?
Luísa era uma rapariga muito esperta, olhou para o médico com os olhos muito abertos e perguntou:
 - Quais animais estranhos? De que é que está a falar Sr. doutor?
 - De nada minha querida, de nada! Disse o médico.
 - Ainda bem que já está restabelecida e pronta para sair desta cama.
 Na semana seguinte Luísa foi de novo correr para a floresta como sempre fazia. Quando ia a passar perto da zona onde tinha caído, fingiu que tropeçava e deitou-se no chão com a cara para baixo e ficou ali muito quieta. O tempo passou e não aconteceu nada, esperou uns dez minutos e nada. Levantou-se e voltou a correr por um outro trilho mais denso, onde havia um carvalho enorme e umas pedras grandes. Fez de novo a simulação de queda e voltou a ficar muito quieta com a cara para baixo, como se estivesse caída e inanimada… De súbito ouviu um restolhar de folhas e ficou atenta, algo lhe tocou na cara. Ela não se mexeu, depois ouviu uma voz:
 - Está desmaiada!
 - Não pode ser! Disse outra voz
 – Não outra vez, que falta de cuidado tem esta rapariga. A voz que falou de novo era bem conhecida, falou alto e claro que falou para ela:
 - Deixa-te de fingimentos, as coisas não funcionam assim, faz favor de te levantares! Luiza deu um salto e gritou:
 - Eu sabia! Eu sabia!
 - És muito atrevida! Disse o chefe dos Óricamos.
 - Eu sabia que não era amnésia, nem invenção minha! Eu tinha a certeza que vocês existiam e que me tinham salvado a vida.
 - Cala-te! Gritou-lhe ele – Não vês que ninguém pode saber da nossa existência? Será que não percebes que as pessoas não estão preparadas para nos verem? Nós sempre existimos e nunca, nunca nos demos a conhecer, os seres humanos não iam entender.
 - Mas eu vi-vos! Disse Luísa – Eu vi-vos e vocês ajudaram-me e salvaram a minha vida, como vamos fazer para eu esquecer? Eu não quero esquece-los, eu adorei conhece-los! Vocês salvaram a minha vida, se não fossem vocês eu poderia estar morta a esta hora, eu preciso agradecer e dizer a toda a gente os seres maravilhosos que vocês são!
 Luísa quase chorou, ficou emocionada e desolada, então não poderia nunca falar disto? Era muito injusto para com estas criaturas maravilhosas, não podia falar e contar a toda a gente o que lhe aconteceu? A maneira como a ajudaram?… Então o chefe dos Óricamos cheio de calma falou de um jeito e com uma voz estranha que fez com que Luísa entendesse:
 - A literatura, a arte, o cinema, o teatro, estão cheias de histórias sobre nós, sobre criaturas maravilhosas como tu nos chamas. Mas são histórias lindas de fantasia, com duendes, fadas, bruxas, e tantos, tantas outras personagens. Histórias que tu própria já deves ter lido. Então podes sempre escrever, contar histórias sobre nós mas, sempre como num sonho, numa amnésia fantasiosa, ou o que quiseres chamar-lhe. Só que nunca vamos aparecer ou mostrar-nos, porque nunca o fizemos nem nunca o faremos e se te pões para aí a falar de nós a toda a gente, ainda dizem que estás louca e metem-te numa instituição para gente maluca, pensa bem!
Luísa ficou ali muito tempo a conversar com aquelas criaturas estranhas. Ficou a conhecer melhor cada um deles. Ficou a saber que já na Grécia Antiga se escreveu sobre eles, que no Egipto também eles ajudaram e acabaram por ficar nas histórias. O mundo está cheio de figuras mitológicas, desde de tempos imemoriais, só que sempre como imaginação dos homens e nunca como uma coisa real. Também ela agora pertencia a esse mundo, como o da fénix, do minotauro, dos dragões, que sempre são apresentados como gigantes lutadores e não como criaturas frágeis.
 Tudo na natureza é importante! Tudo tem o seu lugar e a sua função, seja animal ou vegetal, nada é deixado ao acaso por mais estranho que pareça. Se existe é porque faz parte de um todo, que é o planeta ou o próprio universo.
 Cabe a nós humanos, seres pensantes, cuidar e zelar pela natureza porque fazemos parte dela e se cuidarmos bem da natureza ela cuidará bem de nós.
 Luísa continuou a ir correr para a floresta como sempre fez. Continuou a ser como sempre foi, cuidadosa. Apanhava lixo se houvesse e levava-o para os caixotes, que havia espalhados por todo o lado. Foi assim durante anos e anos e anos …

                               FIM
Lisboa, 15 de Dezembro de 2013

2 comentários:

  1. Olá.
    Gostei!
    Hummm! Suspeito que estamos perante um futuro brilhante como escritora de contos infantis. Vou estar atento e obrigado pela partilha.
    Cumps
    António A.
    Horta de Codeçais

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